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A Transferência em Freud e em Lacan



Dentro de seu percurso teórico, Freud trata a transferência como a repetição, no decorrer do processo analítico, das relações de amor (transferência de libido) do paciente com seu analista colocado no lugar das imagos do pai, da mãe, de um educador, ou irmão(s), entre outras. Freud nos diz: “O que não pode ser rememorado se repete na conduta. Essa conduta, para revelar o que ela repete, será entregue à reconstrução do analista” (LACAN, 2008, p.129). A transferência, é para Freud, a atualização da realidade do inconsciente, que pode aparecer sob várias formas: positiva (na dimensão do amor), negativa (como resistência) ou pela via das contra-transferências (por parte do analista).


Já Lacan dedicou, especificamente, os anos de 1960/61 para estudar sobre A Transferência (título do Seminário VIII), mas, diferentemente de Freud, é só no Seminário XI – Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise que, passa a sustentar a ideia de que a transferência, durante parte do tratamento, acontece com o analista ocupando um outro lugar, o de Sujeito Suposto Saber (SSS) – que seria algo equivalente a: “ele sabe algo de mim que eu não sei”. Portanto, a transferência, para ele, – mesmo que imaginária – relacionar-se-ia ao saber e não à pessoa do analista, como já havia citado, também, em Outros Escritos: “[...] é um amor que se dirige ao saber” (LACAN, 2003. p.555). E de que saber se trata? Do saber inconsciente.


Para Lacan, durante as entrevistas preliminares, a transferência acontece quando um significante qualquer (Sq) do analista (SSS) atravessa a cadeia significante do analisante, ou seja, algo que é dito e que sugere que o analista teria um suposto saber sobre o seu sofrimento, pois este produziria um efeito de “sentido” ao seu discurso. É, portanto, no decorrer da experiência analítica que o paciente perceberá que se trata de um saber inconsciente sobre o seu sofrimento, um saber que “ele ainda não sabe”, que é intermediado pela escuta do analista, pela via do campo transferencial e da associação livre (regras fundamentais da psicanálise), que lhe colocará a trabalho, na busca desse saber, promovendo, então, os giros discursivos que podem transformar-se em atos.


Referências


Lacan, Jacques. Outros Escritos. Trad. Verda Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.


Lacan, Jacques. Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. 1964. Texto estabelecido por Jacques Alain-Miller. Trad. M.D.Magno. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

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